O que nós gostamos é de falar de futebol, futebolistas, tácticas de treinadores, golos bonitos ou fintas excepcionais. O que queremos é valorizar o desporto, os ambientes das bancadas, e as famílias que queiram ir passar um bom momento a ver o seu clube de coração a jogar dentro das quatro linhas.
E o que nos falta para que isso aconteça? Simplesmente que se pacifique o futebol português. Porque hoje, quando se fala de futebol em Portugal, é apenas para referir os jogos de bastidores, jogos de poder e tentativas de ganhar vantagem competitiva através de influências externas.
Pessoalmente gostaria de chegar à segunda-feira e poder falar apenas dos golos do Bas Dost, das fintas de Bruno Fernandes ou Podence, dos passes em profundidade do William, dos cortes do Battaglia, Coates ou Mathieu ou das grandes defesas do Rui Patrício. E nem me custaria muito poder valorizar a qualidade de Jonas, apesar das suas constantes quebras de tensão e perda de consciência, ou reconhecer que jogadores como Brahimi, Aboubakar ou Corona só trazem qualidade ao nosso campeonato, valorizando ainda mais as vitórias que o Sporting possa vir a alcançar.
Mas do jogo de futebol não podemos dissociar o negócio futebol, porque é este último que, apesar de nem sempre ser garantia absoluta de vantagem para ganhar títulos, garante aos clubes poderem estar mais perto de os conquistar. E por ser um negócio de milhões, os agentes tentam ao máximo diminuir o risco de verem os seus investimentos não darem os resultados que se perspectivavam. Para que isso aconteça, terão que tentar controlar-se todas as variáveis associadas a um jogo de futebol, como um fora de jogo ou uma falta que, na dúvida, possa ou não ser assinalado, e possa ser decisivo para a vitória em jogos de difícil resolução, castigos que eventualmente possam surgir por práticas menos próprias e que possam ser arquivados, esquecidos ou não vislumbrados, ou mesmo tentando condicionar agentes de decisão, dando-lhes a conhecer que têm os seus contactos, moradas (suas e das famílias), ou mensagens mais íntimas.
Tendo todas estas variáveis controladas, onde fica a imprevisibilidade do futebol, que tantos apregoam ser o mais belo do jogo? É que, se é bonito ver essa imprevisibilidade para os outros desde que ganhe sempre o mesmo, então para mim não serve.