Carta aberta à FPF: Modelos competitivos… que de competitivos nada têm

    Caríssima Federação Portuguesa de Futebol,

    Como é do vosso conhecimento, o Campeonato de Portugal, vulgarmente conhecimento por CP ou Campeonato Nacional de Séniores- antiga designação, acabou este fim de semana (pelo menos a fase regular). Ora, esta pausa na competição devia servir para se tirarem ilações daquilo que as alterações no modelo competitivo da prova veio trazer e do que se pode vir a fazer num futuro próximo.

    É impossível pensar num futebol português mais competitivo, mais equilibrado, mais forte, se continuarmos a ignorar a base, se continuarmos a ignorar os campeonatos não profissionais, neste caso o CP. É inconcebível que, dentro de um lote de 80 equipas, divididas em cinco séries, só oito possam verdadeiramente lutar para subir para o escalão de futebol profissional no futebol português. Mais importante, é injusto existirem equipas que acabaram o seu campeonato em segundo lugar que não têm sequer oportunidade de poder lutar por uma subida de divisão – visto que só são apurados para a fase final três de cinco melhores segundos classificados.

    É que, a ideia de premiar os três melhores segundos classificados acaba por ser um contra-senso, na medida em que dois dos segundos melhores classificados ficam de fora… por estarem inseridos em séries competitivas. Mais: destas 16 equipas de cada série, seis descem automaticamente, sem existirem playoffs, sem existir mais competição para as equipas que não têm capacidade para investir a sério. Dá que pensar. É bom que dê para pensar e é bom que dê para alterar todas estas questões.

    O SC Espinho foi um dos segundos classificados que ficou de fora do playoff de subida
    Fonte: SC Espinho

    Explorando ainda mais o assunto, se uma série do CP tem 16 equipas e se destas 16 vagas só duas dão acesso direto à competição, qual é o estímulo competitivo que as equipas vão ter? Se, mesmo alcançando um segundo lugar, uma equipa poderá acabar por ficar sem oportunidade de subir, qual é o estímulo competitivo que vamos ter? Nenhum. Pelo contrário, surgem os desinvestimentos, surgem os plantéis mais magros, com contenção de custos e com as equipas a perceberem que o risco de se apostar num plantel mais equilibrado e competitivo é grande… porque nem assim há uma probabilidade razoável de se poder subir de divisão. Daí advém uma série de elementos que prejudicam o futebol português. Se não há investimento, não há interesse dos adeptos, não há desenvolvimento dos jogadores, não há promoção do futebol espetáculo, do futebol que deveria ser primordial.

    O que se pede é que se encontre um modelo que estimule a competitividade, o investimento, a potenciação de jovens elementos. Como alavancou Silas, treinador do Belenenses, seria necessário implementar um novo modelo. E aqui surgem várias alternativas: reduzir o número de séries e aumentar o número de equipas que se apuram para a fase final – ou seja, implementar quatro séries de 20 equipas onde se apuram quatro a seis equipas para uma fase final a eliminar.

    Caso a FPF não queira uma medida tão profunda, o problema poderia resolver-se se dentro das 16 equipas de cada série pudessem ser apuradas quatro equipas para uma fase final de subida, a eliminar. Em relação às equipas que lutam para não descer, seria importante reduzir o número de equipas que descem de divisão. Ainda assim, uma liguilha entre os últimos classificados ou uma fase a eliminar podiam ser pensadas para o caso.

    Mais do que nunca, é altura de promover verdadeiramente o futebol português. A promoção passa por aí. Falta que a FPF olhe com olhos de ver para o Campeonato de Portugal. O futebol português agradece.

    Foto de Capa: FPF (adaptada à FPF)

    Texto revisto por: Teresa Lopes

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    Raquel Roque
    Raquel Roquehttp://www.bolanarede.pt
    A Raquel vem dos Açores, do paraíso no meio do Oceano Atlântico. Está a concluir a licenciatura em Estudos Portugueses e Ingleses. Guarda os clássicos da literatura, a Vogue e os jornais desportivos na mesma prateleira.                                                                                                                                                 A Raquel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.