Força da Tática: Que é feito do “nosso” Tio Bielsa?

    “Quem é, este senhor que aparece na foto? Parece louco!”.

    Precisamente.

    Para aqueles, poucos quero acreditar, que não fazem a mais pequena ideia de quem é esse senhor, se eu lhes pedisse que o descrevessem em uma palavra, muitas das respostas iam para: louco. E é; é El Loco, Bielsa.

    Depois de duas más aventuras, para ser simpático, em Lille e Roma (SS Lazio) o treinador argentino chegou a Inglaterra, para assumir o comando do Leeds United! Histórica equipa inglesa, adormecida no Championship. Se os últimos anos de Bielsa não foram felizes, o que dizer dos últimos 40 do Leeds United.

    O medo e a desconfiança foram os sentimentos, que mais estiveram presentes em Elland Road (estádio Leeds United) nos últimos anos, mas o medo agora é de outro! É o medo de voltar a ser grande novamente.

    Não estou a dizer que o Leeds United vai ganhar o Championship, nem que vai subir. Estamos a falar de um treinador Loco, que consegue destruir da mesma forma que cria, em um clube que já gritou várias vezes que estava de volta.

    Ao longo destas linhas vou procurar mostrar porque Elland Road, é o melhor sítio no Yorkshire, para passar um Domingo.

    Como li, há uns dias: “Let’s whisper it quietly, Leeds are back”.

    1. Quinze minutos, só para abrir o apetite

    Assumo que tinha algumas desconfianças sobre este novo projeto de Bielsa. Desde logo como é que o treinador argentino ia conseguir que jogadores tecnicamente muito longe de outros que já treinou, executassem as suas ideias. Os minutos iniciais da primeira jornada, frente ao Stoke City (com um plantel de Premier League) acabaram com essas dúvidas.

    A confiança para sair a jogar deste a defesa, sobre pressão, não recorrendo ao pontapé na frente:

    Fonte: Sky Sports

    A forma rápida como o Leeds United faz a bola chegar de uma área à outra “parece fácil”. Liberdade de movimentos, Alioski (extremo esquerdo) baixa até ao meio campo defensivo para receber o passe do central, Douglas (lateral esquerdo) ataca imediatamente o espaço criado por esse movimento de Alioski e os dois médios (Klich e Sáiz) invadem imediatamente o meio campo adversário.

    Fonte: Leeds United AFC

    Na zona de finalização, o Ponta de Lança e o extremo contrário, colocam-se nas costas do seu marcador, fixando-o e permitindo a criação daqueles espaços gigantes, onde o golo acontece, com a infiltração de Klich. Reparem com ele temporiza, e aguenta a posição porque sabe que a bola vai entrar ali

    2. Marcação agressiva ao homem, entre o céu e o inferno.

    O Leeds United defende com uma marcação ao homem em praticamente todo o campo. Muitas equipas, defendem com uma orientação ao homem, mas sempre perto da área adversária inseridos em uma filosofia de zona, ou seja, eu marco o adversário que está mais próximo da zona onde estou, mas nunca me desposiciono para ir até ao corredor oposto para ir atrás do “meu” adversário. Ora é precisamente o oposto, que Bielsa pede aos jogadores.

    Em baixo, vemos como o Extremo direito fica com o lateral esquerdo do Norwich e médio centro acompanha o seu adversário até bem longe da sua posição inicial. Estas marcações extremamente focadas ao homem, permitem ao central do Norwich avançar sem oposição pelo corredor central, com todo o espaço pela frente.

    Fonte: Sky Sports

    Bielsa opta por defender desta forma arriscada e agressiva, porque lhe permite pressionar todas as linhas de passe e manter sempre a bola sobre pressão, já que qualquer possível recetor do passe, tem sempre um homem do Leeds United por perto, pronto a pressionar imediatamente o adversário. Agora, se um elemento for batido no 1vs1, como aconteceu com Roofe (Ponta de lança), toda a estrutura fica comprometida.

    Como disse, esta é uma estratégia extremamente arriscada de defender, particularmente quando é realizada já em organização defensiva dentro do meio campo defensivo do Leeds United, já que a equipa não procura proteger o corredor central, nem qualquer outra zona específica. O posicionamento dos jogadores é ditado pelas posições dos adversários, não existe controlo nenhum do espaço.

    Como Bielsa tentar controlar estes riscos?

    Lá está, garantir que passam o menos tempo possível a defender junto da sua baliza. Pressionar intensamente junto logo junto da baliza do adversário. O objetivo é claro: evitar que o adversário esteja o menos tempo possível com uma posse de bola estável, a bola têm de estar sempre sobre pressão.

    Vamos ver, com o decorrer da época, com o cansaço vai afetar a diminuição dos níveis de intensidade de pressão, e particularmente quais serão as consequências.

    3. Caos

    É típico vermos o Leeds United a procurar realizar passes verticais e diagonais para o seu Ponta de lança, com a consequente aproximação dos médios, vindos de trás. Estes homens, procuram ou receber de frente para a baliza e definir ou infiltrar-se atacando o espaço atrás da linha defensiva. É isto que acontece no lance que resulta no 0-2 frente ao Norwich.

    A estrutura de Bielsa, como podemos ver em baixo, não é a que estamos habituados a ver. Não há triângulos perfeitos no meio, para ligar o meio campo.

    É uma estrutura caótica, mas é precisamente esse caos que permite o estilo de jogo direto e vertical, que Bielsa quer. Apesar de a equipa sofrer muito nos momentos de transição defensiva.

    Fonte: Sky Sports

    Alguns segundos depois, e olhando para a formação destruturada que vemos em cima, ninguém esperava, que 10 segundos depois a bola estava no fundo das redes.

    Fonte: Sky Sports

    Simples e vertical, em direção à baliza. Bola no lateral, passe diagonal para o Ponta de lança, que toca na penetração do médio, no espaço entre os jogadores da linha defensiva.

    Conclusão

    A verticalidade que Bielsa trouxe ao Championship, pelo caos que gera, está a deixar os adversários sem grandes respostas, e é bonito de ver e assistir aos jogos. Contudo, esta prova é uma maratona e não um sprint. O foco nessa verticalidade ofensiva, e a falta de conexão que traz entre a defesa e os médios/avançados pode começar a ser um problema nomeadamente na transição defensiva no futuro. Agora a liberdade posicional dos jogadores e a forma fluida com combinam entre si, pinta de cor um quase sempre cinzento Championship.

     

    Foto de Capa: Olympique de Marselha

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    João Mateus
    João Mateushttp://www.bolanarede.pt
    A probabilidade de o Robben cortar sempre para a esquerda quando vinha para dentro é a mesma de ele estar sempre a pensar em Futebol. Com grandes sonhos na bagagem, está a concluir o Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, pela Uni-Nova e procura partilhar a forma como vê o jogo com todos os que partilham a sua paixão.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.