O Passado Também Chuta: Sinisa Mihajlovic

    A bola voava em direção à baliza com o selo do capricho. Às vezes, parecia que voava para o centro da baliza. Mas, na altura certa, começava a curvar maliciosamente em direção ao poste com uma variação descendente. Noutras ocasiões, como se fosse um terrível bombardeiro, impulsava a bola a dois palmos da relva, atravessando a trincheira dos jogadores contrários.

    E maldita habilidade técnica, diabólico primor técnico, malnascido génio que imprimia um efeito manteiga que levava a que, mesmo que o guarda-redes tocasse na bola, a maldita escorregasse como escorregam os peixes de rio e aninhava-se no fundo da baliza para admiração de uns e desespero de outros.

    Falo ou tento escrever sobre um senhor. O seu nome é Sinisa Mihajlovic. Acaba de aterrar no recanto ibérico, que viu partir caravelas e viu chegar unicórnios que outrora partiram para deleitar e admirar o Vaticano durante o reinado de Dom Manuel. Vem para outras funções: talvez amargas, talvez venturosas, mas aqui ficarão registadas incipientes palavras que tentarão narrar golpes mágicos.

    Emparedado entre Diego Armando Maradona e Juninho Pernambucano e observado ao longe por Alessandro Del Piero como um dos melhores lançadores de falta de sempre, envergou a camisola do histórico Lázio. Deu-se um luxo: fabricou-se um troféu único, festejou um hart-trick com golos de falta direta, assinou 27 golos de falta na série A (numa série que fazia a diferença).

    Foi campeão de Europa e campeão Intercontinental metido entre um póquer de ases – Robert Prosinecki, Dejan Savincevic e Darko Pancev – no Estrela Vermelha de Belgrado. O Olympique de Marselha de Papin e Mozer conheceu o sabor da relva na hora dos penaltis. Nasceu em 1969 ao sabor da Primavera de Praga e decidiu-se ao som do barulho provocado pela queda do Muro de Berlim. Podendo ser A ou B ao ser filho de croata e sérvio, decidiu-se pela Jugoslávia, a atual Sérvia.

    Mihajlovic era um caso sério na marcação de livres
    Fonte: SS Lazio

    Durante o seu trajeto italiano, jogou ao lado de jogadores como Fernando Couto, Marcelo Salas, Mancini, Gullit, Verón ou Platt. Estando na época fria da retirada ainda jogou no Inter de Milão para voltar a jogar com Verón, Favelli e unir-se a Mancini. O facto de passar mais tempo do que o habitual no banco dos suplentes não o impediu de decidir muitos jogos de livres diretos.  Durante a temporada de 2005-2006, deixou os relvados para se dedicar à lavoura própria de treinador. Foram dezoito anos a semear magia pelos relvados.

    Talvez nenhum destes cracks do Estrela Vermelha de Belgrado tivessem transcendido sem o trabalho paciente e de mestre de Dragan Džajic. Foram cinco anos de formação paciente. Fez um trabalho que colocou o Futebol jugoslavo na órbita internacional. Os jogadores desta geração foram contratados pelas melhores equipas de Europa. Equipas como o Real Madrid, Sampdoria, Milão, Lázio e uma lista de clubes que o albergaram nos seus balneários.

    Sinisa Mihajlovic, que está catalogado como defesa (ainda que muitas das suas maravilhas tenham nascido desde a posição de médio descaído para a esquerda, talvez graças às novas tecnologias), continua a admirar o mundo pela sua execução exímia. Pode ser o caso do mito criado como jogador que o impediu de, numa carreira posterior, alcançar também o patamar da excelência.

    Artigo revisto por: Ana Rita Cristóvão

    Foto de Capa: SS Lazio 

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    Poeta de profissão, José simpatiza com o Oriental e com o Sangalhos.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.