Grécia 2-1 Costa do Marfim: Os deuses fizeram horas-extra

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    O RESCALDO

    Há quem acredite que o futebol é um dos desportos mais imprevisíveis, sobretudo porque aquando do primeiro apito do árbitro, para o início da partida, ninguém sabe muito bem aquilo que vem do jogo. Apesar das diferenças entre equipas, que podem apresentar melhores ou piores jogadores, mais ou menos noções táticas daquilo que é o jogo, o futebol revela em si uma surpresa constante, em que o David não raras vezes surpreende o Golias.

    Pode-lhe ter parecido estranho este primeiro parágrafo de análise à partida desta noite do Estádio Castelão, em Fortaleza. Mas, caro leitor, não lhe preciso de recordar, até pelas lembranças negativas que isso traz, a vitória mais do que inesperada da Grécia no Euro 2004. Daquele “conjunto de bons rapazes”, que não pareciam colocar qualquer tipo de receio nos adversários, surgiram campeões da europa à custa de Portugal. Depois dessa conquista histórica para os helénicos, a seleção grega tornou-se uma espécie de camaleão do futebol mundial: a cada competição de seleções que passa, todo o adepto já olha para os gregos de forma diferente, como se fosse uma seleção que pode surpreender sempre, mesmo que quando se olhe para o onze inicial, pouca qualidade superlativa se reconheça.

    Esta equipa, que parece gostar do risco e de jogar sempre contra as probabilidades, entrava esta noite em Fortaleza com a “simples” missão de repetir a história, numa missão que parecia difícil perante a forte Costa do Marfim mas que não se adivinhava impossível para os gregos, depois de todo o histórico que a seleção já traz do passado recente. Com apenas 1 ponto conquistado em duas partidas, contra os 3 pontos dos africanos, a seleção comandada por Fernando Santos aparentava não ter tarefa fácil para chegar aos oitavos-de-final, principalmente pela falta de qualidade do seu futebol até ao momento no Mundial. Com um estilo de jogo que já não surpreende ninguém, que privilegia o momento defensivo e que raras vezes contempla a entrada no último terço do adversário, a seleção helénica teria que fazer bem mais na partida decisiva para alcançar o único resultado que lhe chegava para continuar com o sonho de permanecer no Brasil: a vitória. No onze grego, de realçar a entrada do médio-ala direito Lazaros Christodoulopolos e Karagounis para as saídas dos habituais titulares Gekas e Katsouranis. Do lado dos costa-marfinenses, o técnico Sabri Lamouchi optou por colocar Didier Drogba no onze, remetendo Wilfried Bony para o banco de suplentes.

    Drogba despediu-se da selecção costa-marfinense da pior forma  Fonte: Getty Images
    Drogba despediu-se da selecção costa-marfinense da pior forma
    Fonte: Getty Images

    Numa primeira parte muito amarrada taticamente, a Grécia surpreendeu a equipa africana. Com uma ideia de jogo que procurava dar o comando de jogo aos costa-marfinenses, Fernando Santos quis, como em tantas outras ocasiões, jogar no erro decisivo e dar a estocada final no adversário quando este menos o esperasse. E acabou por consegui-lo em parte nos primeiros quarenta e cinco minutos pois, ainda que com domínio territorial e na posse de bola, a Costa do Marfim raramente assustou a defensiva grega na primeira parte. De facto, e apesar das duas substituições forçadas do lado dos gregos (Kone e Karnezis foram substituídos por Samaris e Glykos), foram os gregos que tiveram as melhores oportunidades de golo no primeiro tempo, com destaque para uma bola à trave enviada pelo lateral esquerdo Holebas. A inteligente estratégia do treinador português acabou por dar frutos já bem perto do intervalo, quando Samaris aos 43’ aproveitou da melhor forma uma perda de bola africana para dar à seleção grega uma vantagem que lhe permitia colocar-se, ainda que provisoriamente, em lugar de apuramento para os oitavos-de-final do Campeonato do Mundo do Brasil.

    No início da segunda parte, a Costa do Marfim rapidamente demonstrou que vinha para o segundo tempo mais rápida e sobretudo mais pragmática no ataque à baliza de Glykos. Com efeito, o assalto inicial feito pelos marfinenses sobretudo nos primeiros 15 minutos da segunda parte levou a equipa de Fernando Santos a recuar linhas. Ainda assim, e apesar de não ter o controlo do resultado, os gregos pareciam ter o controlo do jogo, continuando a criar as melhores oportunidades do jogo e sobretudo a nunca deixarem os africanos se aproximar com demasiado perigo das suas redes. Aos 58’ e aos 68’, Salpingidis (grande defesa de Barry) e Karagounis (remate à trave) estiveram bem perto de dar o xeque-mate na partida e assim colocar a sua seleção entre as dezasseis melhores da competição. Contudo, e como em tantas outras ocasiões, a eficácia falou mais alto e a Grécia acabou mesmo por sofrer o empate, num golo apontado por Wilfried Bony à passagem do minuto 73. Sem que nada o fizesse prever, a equipa de Lamouchi via-se em vantagem na corrida pelo apuramento, perante uma Grécia que parecia contar com uma sorte madrasta na decisiva noite de Fortaleza.

    Samaras deu a vitória à Grécia nos descontos  Fonte: Getty Images
    Samaras deu a vitória à Grécia nos descontos
    Fonte: Getty Images

    Contudo, desengane-se quem acha que a história ficou por aqui, que este foi o último capítulo desta história, e que a Grécia não renasceu das cinzas para repetir tudo aquilo que já tinha feito. Do nada, e como em não raras ocasiões, o espírito de luta dos guerreiros gregos ressurgiu no Brasil e em 15 minutos de raça e sofrimento, a equipa de Fernando Santos não desarmou na luta por aquilo que fez por merecer ao longo da partida. Depois de novo remate de Torosidis, aos 80 minutos, ao poste e de uma grande oportunidade de Salpingidis, o minuto 92 acabou por ser decisivo para Fernando Santos, quando o árbitro da partida assinalou, e bem, uma grande penalidade sobre a grande figura da equipa, Samaras. A partir daquele momento, faltava apenas o toque final do avançado do Celtic que, na ponta das botas, e perante um imponente Barry, fez a Grécia entrar novamente na história, alcançando pela primeira vez o apuramento para os oitavos-de-final de um campeonato do Mundo. Contas feitas, a história acabou por se repetir e contra tudo e contra todos, quem acabou de pé foi novamente a Grécia. Pode-se falar de sorte, felicidade, de estrelinha de campeão. Mas a sorte também é feita por quem merece e hoje a Grécia mereceu-a. E isto porque esta noite, os deuses fizeram horas extras.

     

    A Figura

    Grécia – Um espírito de garra e determinação levaram os gregos novamente a fazerem história no futebol mundial. O apuramento para os oitavos-de-final é mais do que merecido depois de uma excelente exibição esta noite frente à Costa do Marfim. Agora, venha a Costa Rica, a grande surpresa da prova. E por falar em surpresas, se há equipa que pode continuar a surpreender, é a grega. Aguardemos pela fase decisiva da prova.

    O Fora-de-Jogo

    Drogba – É quase um “pecado” colocar o experiente avançado como desilusão do jogo mas, como figura principal da Costa do Marfim, acaba por levar com o “cartão vermelho”. Nunca foi capaz de levar a equipa às costas rumo a um apuramento que os africanos acabaram por não fazer merecer. Uma despedida ingrata de Drogba da seleção nacional.

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    Pedro Maia
    Pedro Maiahttp://www.bolanarede.pt
    Apaixonado pelo desporto desde sempre, o futebol é uma das principais paixões do Pedro. O futebol português é uma das temáticas que mais gosta de abordar, procurando sempre analisar os jogos e as equipas com o maior detalhe.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.